Prefácio II: A fraquejada de um país terrivelmente evangélico
Em seu conto que define como poético-profético, expressão de uma esperança equilibrista, o pastor batista e cientista político lamenta o desassossegado Brasil que despontou como potência mundial no início do século XXI, e hoje retorna ao o papel subalterno de periferia do sistema internacional. Direto ao ponto: a soberania nacional parece incompatível com a noção de livre mercado, é a fraquejada de nossa democracia.
Denuncia com profunda tristeza, a onda reacionária em nome de Deus e o surto de violência assustador que marcam o governo Bolsonaro e se reproduzem nas liturgias dos templos. “Alguns padres e pastores inseriram nas suas liturgias a patética coreografia da violência como expressão de culto”. Mas, alerta, os falsos profetas que flertam com o moralismo típico fascista no pasarán, embora observe que setores das Igrejas Evangélicas flertam com um tipo de totalitarismo político carismático cuja visibilidade e resultados aumentam no Brasil na atualidade
Descreve as origens, expansão e a força com que o projeto de poder de denominações evangélicas como a Igreja Universal se consolida não apenas no Brasil, aqui com o crescente desempenho parlamentar de uma bancada que começa a se formar no processo de elaboração da Constituição Cidadã de 1988, mediante disputa por concessões públicas de estações de rádio e canais de tv que antecipam a criação de grupos de comunicação. Aqui o texto é contribuição relevante para compreender a relação entre a ascensão do poder do neopetencostalismo brasileiro e o papel da mídia na consagração de uma lógica capitalista associada à “teologia da prosperidade” – “que passa a ser especialmente atraente num momento de crise econômica”.
Importante radiografia dos fatos e registros de sentimentos que fazem parte do momento crítico que vivemos, a leitura das lamentações, as análises e as denúncias do autor vão ao encontro da resistência que brota da esperança de que nos falava Spinoza: aquela que é mais forte que o medo, (parceiro da tirania), esperança caminho para a Democracia.
Ingrid Sarti
Professora Titular de Ciência Política. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS). Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)