Ah, como cansa querer
Ser marginal
Todos os dias.
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Estão terrivelmente sozinhos
Os doidos, os tristes, os poetas.
Hilda Hilst
Chego ao 52º artigo publicado aqui na coluna no ano de 2025. Ou seja, publiquei em todas as semanas do ano.
Como pauta principal, as controversas relações entre política e evangélicos.
Tentei me desvencilhar das figuras públicas carimbadas que dirigem igrejas de franquias. Líderes amplamente citados nas redes sociais pelos seus malfeitos. Vestidos com capas de santidades em altares nos templos, são danadinhos nos corredores e balcões.
Tentei retratar o cotidiano dos evangélicos que inspiram pelo modo simples e bonito com que vivem a fé. Esses não representam ameaça para os que creem de forma diferente, muito menos para os que não creem.
Assumi a estratégia textual propositiva como quem busca, quase que ingenuamente, dá visibilidade aos que geralmente não aparecem. A intenção era não colocar como protagonistas da coluna fundamentalistas que fazem da fé negócios. Foi difícil ser fiel a este propósito.
Ao falar sobre os evangélicos, não o faço como analista neutro. Levo para o coração. Relação de amor e ódio.
Fico injuriado com os oportunistas hipócritas que arrotam moralismo em nome de Deus. Usam sem qualquer constrangimento o púlpito como palanque.
No sentido oposto, acompanho com interesse as comunidades evangélicas, periféricas em relação as igrejas de mercado, que servem e fazem a diferença em muitas trajetórias de vidas sem resvalar no proselitismo. Esses não fazem o bem para obter vantagens. Geralmente, são invisíveis para os jornalistas e a famigerada “opinião pública” em tempo de redes sociais de celebridades instantâneas.
Nos meus artigos, coloquei no centro das atenções gente que me encanta. Elas expõem pelo contraste, ainda que não seja essa a motivação primeira, um tipo de evangélico que vocaliza a rudeza bolsonarista.
Sobre as minhas movimentações e produções no ano eleitoral de 2026, como pastor da Igreja Batista do Leme e Igreja Batista da Esperança, como pesquisador no Grupo de Pesquisa Passagens IFCS-UFRJ, como colunista aqui no ICL e como articulador do Instituto Mosaico, ainda não fiz planos.
Sei que o coronelismo eletrônico evangélico, emponderado pelo bolsonarismo, vai continuar tomando o nome de Deus em vão e instrumentalizando congregações em que a ambição financeira supostamente justifica o culto.
A famigerada guerra cultural engendrada pelos mercadores da fé gera vantagens para sacerdotes que utilizam o medo como pedra de toque para o abuso espiritual.
Quadros da esquerda, na disputa por eleitores, vão continuar ouvindo consultores que reduzem “os evangélicos” a no máximo três caricaturas. Daí, o critério do marketing político nesta visada continuará construindo simulacros.
Em 2026, seguirei sabendo da minha irrelevância. Sequer tenho cinco pães e dois peixinhos no meio da multidão.
Como adepto da espiritualidade prosaica e da igreja artesanal, sigo fazendo da vida a arte do encontro cultivando uma teimosa esperança. Como moeda de troca, só o afeto.