Carta aberta aos pastores: Malafaia transformou o bolsonarismo em outro evangelho

“A sanguessuga tem duas filhas, que se chamam Dá e Dá” (Provérbios 30.15)

Organizadores do ato pró-anistia, tanto na Paulista como em Copacabana, usaram a igreja evangélica como curral.

Políticos pastores estão levando a igreja para praça pública para defender os interesses comerciais das suas empresas. Não lhes parece estranho?

E quando a manifestação política é agendada propositadamente no domingo entre o culto da manhã e o da noite? Pastores políticos perderam o temor a Deus já a algum tempo.

Já perceberam que os líderes das manifestações pela anistia aos presos pelo 8 de janeiro são pastores de igrejas em expansão? Os tais estão organizando filiais bem ao lado da sua igreja como se você e sua congregação não existissem.

Não é coincidência, todos os líderes evangélicos que cabem no trio elétrico bolsonarista são dissidentes. Saíram das igrejas originais e fundaram as suas. Na sequência, montaram esquemas de negócios tipo franquias. Evidente que levaram parte do rebanho promovendo dissenções. Movimento G12 e assemelhados fizeram miséria Brasil afora dividindo igrejas e roubando ovelhas.

Os pastores de mercado olham para os pastores comunitários – como eu e você – como concorrentes. Adaptaram a fala de João Batista. Na verdade, deturparam: “Convém que minha igreja e suas filiais cresçam e as comunidades pequenas de pastores sem expressão e sem recursos diminuam”.

Pastor, fica esperto. Não se iluda. “A sanguessuga tem duas filhas, que se chamam Dá e Dá” (Provérbios 30.15).

Hoje eles lhe tratam como aliado. Mas, não vai demorar para lhe transformar em adversário a ser batido. Deram várias demonstrações do tamanho da gula e da ambição.

Os empresários da fé que fazem política pescam em aquários. Suas igrejas estão lotadas porque seduziram crentes batizados e discipulados nas pequenas igrejas. Neste caso, a lei da atração tem a ver com as ofertas que Cristo recusou no deserto. Lembra? Tudo isso te darei se prostrado me adorares!

Estamos carentes de crentes cheios do Espírito Santo com discernimento. Tão importante quanto os dons da profecia e de línguas é o dom do discernimento de espírito.

Os políticos pastores em questão transformaram o bolsonarismo em outro evangelho. O apóstolo Paulo foi enfático ao dizer que a igreja estava passando depressa da graça de Cristo para outro evangelho (Gálatas 1.6-9).

Ora, os militantes políticos de extrema direita que oram para pneus e que cometem crimes com a Bíblia debaixo do braço já saíram da graça há muito tempo. São capazes de fazer continências e orar na frente dos quartéis: Bolsonaro é o nosso pastor e nada nos faltará!

Irmão e irmã, será que estou falando aqui alguma coisa que lhes seja estranho? Estou exagerando?

Paulo exortou aos irmãos da igreja que caso lhes fosse apresentado outro evangelho, ainda que anunciado por anjos, que considerassem anátema (Gálatas 1.8).

No coração do Malafaia o Bolsonaro é um ídolo que deve ser cultuado. Vive organizando comícios como se fossem cultos campais. Bolsonarismo, para o pastor empresário, não se resume a uma pessoa, trata-se de uma entidade.

Transformaram a igreja em curral político. Do mesmo púlpito em que o Evangelho é anunciado como boas novas de salvação, os malditos estão fazendo proselitismo político descaradamente.

Alguns políticos pastores que estão pregando no trio elétrico em Copacabana ou Avenida Paulista estão mais interessados em isenções do que com justiça, em perdão de dívidas do que perdão de pecados.

Como sanguessugas, viciaram-se no sangue do Estado. Muito não basta. Dá e Dá!

O feio é que usam o nome de Deus em vão para satisfazer as suas ambições. Transformaram Deus em cabo eleitoral do falso messias.

Sou do tempo que na igreja levávamos a sério o fugir da aparência do mal porque tínhamos compromisso com o bom testemunho.

Olhando para essa aventura de transformarem igrejas em currais eleitorais do bolsonarismo, puxadinhos de pastores gulosos, será que os evangélicos no Brasil perderam completamente o discernimento?

A antipatia pela igreja evangélica só cresce. A sociedade brasileira está escandalizada com o nível de perversidade vista entre nós. Entregaram a reputação da igreja a quem se acostumou a viver à base de rachadinhas.

Hoje, o político pastor que convoca os atos pró-anistia é o maior difusor do discurso de ódio no Brasil. Olhando para ele de perto, por todos os ângulos, em nada lembra Jesus de Nazaré. Raivoso, como disse o Deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), espuma pela boca.

Que os evangélicos em surto patriótico confessem os seus pecados e voltem para Jesus! Cheios do Espírito Santo, aperfeiçoem o dom do discernimento.

Sem anistia para os pastores que incitaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A melhor maneira de darmos um basta, colegas pastores, é considerá-los anátemas!

Valdemar Figueredo
Editor do Instituto Mosaico, Pesquisador da USP (pós-doc), cientista social e pastor
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