Freio de arrumação: o PT e os Evangélicos

No Partido dos Trabalhadores (PT), parece que a assessoria para construir pontes com os evangélicos acredita que o problema da distância, quase indiferença, é cognitivo.
No primeiro semestre de 2025, escreveram uma cartilha e agora investem em curso para letramento dos filiados para conversarem com os evangélicos. As duas iniciativas seriam louváveis caso fossem acompanhadas de ações efetivas, continuadas e bem longe do período eleitoral.
Os conteúdos foram elaborados por gente muito séria e capaz. Mas, sabidamente, são produções para dentro. Portanto, as críticas aqui produzidas não se dirigem aos proponentes da cartilha ou do curso. Diante do vazio enorme e silêncio eloquente, pessoas de fora do quadro partidário, voluntariamente, se propuseram a cooperar.
O PT nasceu, cresceu e sobreviveu em sintonia fina com os movimentos sociais. Bases populares tão caras à concepção teórica da Social-democracia. Levando-se em conta os evangélicos sociologicamente definidos como periféricos, parece faltar bases para o diálogo.
Perdoa o modo de versar deste colunista, mas, à distância, parece que as abordagens do PT para dialogar com os evangélicos soam intelectualizadas demais. Está faltando povo nas conversas sobre os evangélicos.
Os autodesignados evangélicos “progressistas” convertidos às pautas identitárias não deveriam chutar a escada para impedir a aproximação de outros irmãos de movimentos populares de base democrática. Fiéis com outros percursos percorridos, outras expectativas sociais e distintos repertórios comunitários.
O curso promovido pela Fundação Perseu Abramo, centro de estudos políticos e de formação do Partido dos Trabalhadores, por analogia, parece construção de ponte sobre um rio que secou. Sugerem com a empreitada, os assessores especializados, que é mais fácil trabalhar com concreto armado do que tentar descobrir as causas da seca.
O prejuízo é enorme pela falta de interlocução. Ensaiar uma aproximação agora na iminência da corrida eleitoral, soa falso ou oportunista.
O grande perigo, aconselhados por quem tem que apresentar relatórios tangíveis – grupos financiados, funcionários ou cargos comissionados assalariados – é repetir os simulacros das eleições gerais de 2022. Ou seja, criar cenas em paraísos artificiais para acionar símbolos religiosos de feições evangélicas, preferencialmente pentecostal, para conquistar votos.
Não tentar engabelar os crentes reproduzindo os métodos do bolsonarismo. O clericalismo partidário peca quando subestima a capacidade de discernimento dos eleitores, ainda que, mas não só, evangélicos.
A assessoria do PT, para dialogar com evangélicos, se existe, esteve nos últimos 3 anos pregando para convertidos. Os responsáveis internos deveriam ser chamados para uma reunião de prestação de contas. Freio de arrumação.
Na liturgia de tal reunião, antes das ladainhas intelectualizadas, recomenda-se um bom tempo de confissão de pecados.
O pior cenário é o PT não conseguir a comunhão com as bases das igrejas evangélicas em 2025, e daí, apelar em 2026, pragmaticamente, para alianças espúrias com donos de igrejas controladores de currais eleitorais.
O voto do cajado é abjeto e sob hipótese alguma os partidos sérios e os evangélicos íntegros devem legitimar tal pacto. Quem usa o nome de Deus com fins eleitorais não merece respeito, seja agremiação política ou facção religiosa.
Os cardeais partidários no Brasil, com pouquíssimas exceções, desrespeitam as comunidades evangélicas sérias quando legitimam o poder dos cambistas que fazem de igrejas evangélicas covil de salteadores.
As conversas truncadas entre PT e evangélicos. A questão não é cognitiva. Tem mais a ver com falta de emoção. O espírito é corpóreo e pouco afeito aos esquemas.