PROFECIA COMO LEMBRANÇA

Quem quer seguir em frente consistentemente precisa entender o que deixou para trás. Privilegiamos a ideia de profecia enquanto vidência. Mas, limitá-la a esse aspecto a reduz.

Profecia abarca as apreciações do presente e a capacidade de encarar a história.

Tendo como pano de fundo a profecia do livro de Isaías, o conselho “esquece o passado e toca pra frente” soa como dica tola.

Isaías ocupa-se do passado para que o presente seja entendido e que haja responsabilidade quanto à construção do futuro.

Sun Tzu, no clássico “A arte da guerra”, supostamente escrito na China Antiga no 3º século a.C., aconselha: “Pondere a situação; depois, mova-se”.[1]

Tem gente aflita por saber o que ocorrerá no futuro, mas não se arrisca a olhar para o que fez dos seus dias passados. Lança a sorte, pois tem preguiça em cultivar a prudência.

Quanta insensatez em nome de Deus! Ponderar é melhor do que a afoiteza. Algumas pessoas chamam a precipitação de fé.

Confinar a voz profética ao mundo encantado funciona como mecanismo de controle. A história revela a crueza da realidade. Espiritualiza-se quando a ponderação revela as contradições. Não existe – ou não deveria existir – incompatibilidade entre a voz profética e a sensatez.

Lembrar do caminho percorrido ajuda a situar a vida no presente. As lembranças ajudam nas ocasiões em que é necessário fazer escolhas.

Olhar para trás sem que isso imobilize. Seguir adiante ciente das distâncias. Na história universal, bem como na experiência pessoal, não foram poucas as vezes que a perplexidade foi superada por uma visão.

“Visão de Deus.” É isso que define um profeta e confere autenticidade à profecia.

A partir dessa visão essencial, mova-se! Que venha o futuro!

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[1]          [1]TZU, Sun. A arte da guerra. São Paulo: Jardim dos livros, 2011, p.74.

Foto: Domínio público/pxhere

Valdemar Figueredo
Editor do Instituto Mosaico, Pesquisador da USP (pós-doc), cientista social e pastor
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