PROFECIA COMO REDENÇÃO

É comum entre os que têm fé a expectativa de que Deus os tire de situações ruins e os conduza aos momentos felizes. Tomados pelas mãos e levados de uma extremidade a outra. (Isaías 41.8-20)

A oração de Marge Simpson é teologicamente duvidosa, mas faz pensar: “Querido Deus, é Marge Simpson, se você parar esse ciclone e salvar nossa família, seremos sempre gratos e o recomendaremos a todos os nossos amigos”.[1]

As nossas travessias perigosas são mais marcadas pelo rigor do que pelo humor. Para alguns, a pressa não combina com as tiradas engraçadas. Pensar em sair do cativeiro babilônico faz-nos lembrar de três inconvenientes:

  1. Falta força para partir. Como romper a força dos opressores? Tão debilitados para começar qualquer projeto novo, inclusive aqueles que dizem respeito ao nosso destino. Pessoas acomodadas não estão necessariamente satisfeitas.
  2. Falta fôlego para seguir. Como voltar para casa sem olhar para trás com medo de estar sendo seguido? Inertes, porque temem as reações às suas ações. É tão paralisante ficar refém do que o outro vai pensar ou fazer em relação às nossas escolhas.
  3. Falta fé para reconstruir. O medo do que vai encontrar é seguido pelo medo do que terá que ser feito? Teremos que lidar com as consequências das nossas escolhas, daí alguns preferem “deixar quieto”, pois viver implica coragem para se “reinventar”.

Vamos “combinar” que ser criativo, inventivo e corajoso dá muito trabalho.

Seria terrível render-se e admitir que o nosso fim de linha seja o cativeiro babilônico ou qualquer outro. O esforço para adaptar-se passa por não cultivar expectativas. Sofre menos quem sonha menos. Mas a profecia da redenção alimenta a busca por algo a mais. Para tanto precisaremos: força para partir; fôlego para atravessar; fé para reconstruir.

Estamos embalados em um monte de coisas que não nos realizam. Com a profecia da redenção, talvez voltemos a entender que sonhar não é um luxo, mas uma necessidade básica.

Lembra do samba enredo da Mocidade de Padre Miguel no ano de 1992? Paulinho Mocidade começava assim: “Sonhar não custa nada…”

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[1]          [1]PINSKY, Mark I. O Evangelho segundo os Simpsons: a vida espiritual da família mais divertida do mundo. São Paulo: Novo Século, 2005, p.33.

Foto: Domínio público/pxhere

 

Valdemar Figueredo
Editor do Instituto Mosaico, Pesquisador da USP (pós-doc), cientista social e pastor
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