O plano de negócio das igrejas de franquia passa por superar e absolver as igrejas comunitárias. A livre concorrência aplicada ao mercado da fé.
Aproveitando as férias escolares dos filhos, fomos no final de semana desfrutar do frio na Serra do Rio de Janeiro. Além das longas caminhadas por Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, a ideia era bater perna durante o dia e hibernar a noite.
Nas ruas centrais das lindas cidades turísticas, notei que geralmente há a proliferação de igrejas de franquia quase como se sobrepondo às igrejas cristãs de faixadas tombadas pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico.
Perceptível o modelo de igreja evangélica em que os donos investidores não têm qualquer respeito pelas igrejas locais enraizadas no território, supostamente irmãs. São tratadas como concorrentes a serem superadas.
Os letrados na teoria weberiana poderiam nos falar um monte sobre o conceito de modernização enquanto contraponto da tradição. Mas a pretensão desta coluna é bem mais modesta.
Existem igrejas de franquia que dão pouca ou nenhuma importância às pequenas e modestas igrejas de bairro que se esforçam para sobreviver em situações adversas. Anônimos, pastores e pastoras, gente simples do bairro, servindo pessoas do local sem nenhuma expectativa de reciprocidade. Algumas dessas igrejas vivem o ministério no modo artesanal por décadas. Nelas, sociabilidade é o jeito de ser.
Daí, chegam as megaigrejas com sede na capital, geralmente vinculadas ao nome de um pastor famoso e financiadas por investidores ricos, passam o trator para aplainar o terreno como desbravadores.
Importante dizer que o modo igreja de franquia não se restringe às neopentecostais. Isso está disseminado também entre as pentecostais tradicionais e as denominações evangélicas históricas.
A atitude que consagra novos rumos vende vitória em Cristo. Os tais desbravadores pregam empreendedorismo e demonstram na prática a ética de passar o trator em casas de oração para construir galpões de shows.
Os respectivos comitês gestores dos órgãos denominacionais aplicam a lei da livre concorrência a favor dos pastores ricos que tiveram a visão de ampliar a sua paróquia. Numa analogia, crescem entre os evangélicos a concorrência e a exigência do “Estado mínimo”. Neste caso, há pouca ou nenhuma interferência dos órgãos executivos das denominações.
Igrejas de franquia são empreendimentos que dependem da multidão. No campo, não fazem o esforço na fase difícil do semear. Chegam na época da colheita com tecnologia para empilhar gente em galpões enormes de pouca luz natural, impessoal, com voluntários treinados para aplicar os métodos descritos no manual.
Tudo leva a crer que tais empreitadas eclesiásticas, que são casos de sucesso de gestão, expansão financeira e patrimonial, contam com a migração da membresia das pequenas igrejas comunitárias. Promovem megaeventos, como shows gospel, para atrair a clientela do rebanho do vizinho. Chegam no pedaço com estrutura para entreter crianças, adolescentes e jovens.
O pastor local, de estrutura simples, sabe que não pode competir. Os atrativos parecem irresistíveis na lógica do mercado. Como se uma megalivraria engolisse as livrarias menores que trabalham nas pequenas e médias cidades por três ou mais gerações.
Para essas igrejas de franquia, vigora a lógica da competição do mercado capitalista. O cliente é seduzido pela melhor oferta. Querem fazer crer que o Deus é o mesmo, no entanto, o invólucro é diferente.
As tecnologias de última geração das casas de shows aliadas às parafernálias adaptadas da linguagem de autoajuda são utilizadas para provocar sensações espiritualizadas.
O uso desvirtuado da Programação Neurolinguística (PNL) maquiada para gerar fervor. Os usuários acometidos de alucinações passam a chamar pensamentos positivos, inculcados no calor da multidão, de fé.
O transe espiritual que forma empreendedores em série.
Igrejas locais que funcionam na dinâmica familiar, comunitária, artesanal, parecem ameaçadas pelo esvaziamento.