PROFECIA COMO PROTEÇÃO
“Ao anoitecer, eis o pavor, e, antes que amanheça o dia, já não existem” (Isaías 17.14).
O universo infantil é fértil em fantasias. Superar o medo de perigos irreais é um desafio. As crianças vão crescendo, tomando consciência da realidade e se desapegando das realidades criadas pela imaginação. Ou pelo menos as distinguindo.
Ilusão das ilusões acreditar que adulto que se preza aprende a realidade pelo uso da razão ou pela voz da experiência.
Temos os nossos próprios amigos ilusórios, assim como cultivamos inimigos imaginários. Supervalorizamos as sombras da noite. Entregamo-nos, nestas ocasiões, às mais fantásticas imaginações.
Sobre a realidade desfavorável, criamos um mundo paralelo de sombras, monstros, tempestades e toda sorte de intempéries. Na nossa imaginação, os inimigos crescem e os perigos parecem insuperáveis.
Não podemos ignorar que a realidade do povo judeu retratada pelo profeta Isaías era de eminente perigo. O perigo era real.
“Este é o quinhão daqueles que despojam e a sorte daqueles que nos saqueiam” (Isaías 17.14).
Era só olhar ao redor para perceber que estava cercado pelos inimigos. Frequentemente saqueados.
O fato de estarmos cercados de inimigos supostos e reais não deve determinar a nossa paralisia.
Quem é movido pela arrogância geralmente é abatido. Mas quem vive aconselhado pelo medo, não vive.
O fato de sermos atingidos não determina a nossa derrota. Quantas histórias de vida que nos ensinam a dar a volta por cima. Recomeçar apesar de…
Reafirmemos a nossa vulnerabilidade, mas vamos também confirmar a nossa teimosa esperança.
À distância os inimigos parecem enormes, insuperáveis. Até que a gente se aproxima. Quem se assombra com sombras não tem coragem de olhar para frente.
Nós também ergueremos os nossos olhos para os montes à procura de quem possa nos oferecer socorro.
Hoje: eis o terror.
Amanhã: já não existem mais.
Lembre-se de que ameaças não são fatos consumados, blefes não são verdades consolidadas e intimidações não são provas de força.
A bela e provocativa imagem de uma parábola. Um homem trôpego insiste em subir uma montanha sinuosa. Novas tentativas após os tropeções. Como se não bastasse o terreno acidentado e a subida íngreme, ele carrega uma tocha acesa na mão que em nada lhe ajudava no equilíbrio. O determinado senhor é cego. Mas então, dizem-lhe, essa tocha, por que o senhor a carrega? E o cego responde: Carregando essa tocha, quero demonstrar respeito à luz que não vejo. Quero erguer a tocha da luz e servir à verdade que não vejo. Carrego essa tocha gratuitamente, por esperança na verdade da luz. Eu a carrego pela fé.[1]
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[1] [1]HAUZIAUX, Alan. Pode-se provar a existência de Deus? In: GIRARD, René. Deus: uma invenção? São Paulo: Realizações Editora, 2011, p.63.
Foto: Domínio público/pxhere