PROFECIA COMO CONTEMPLAÇÃO

Quando falamos de profecia, geralmente pensamos sobre a fascinação de antecipar as coisas futuras. Agouro. Predição. Presságio. Algo como desembrulho dos mistérios ocultos. Somente uma mentalidade excepcional para conectar-se com o transcendente e antecipar a história, acham alguns. Nessa visão pitoresca, profeta é aquele que entende a cabeça de Deus.

O livro de Isaías é oportuno para dizer-nos que profecia é também contemplação. A figura do profeta é relacionada ao herói mítico que destemido atua para mudar realidades. Ação profética seria contestadora dos poderes religiosos e políticos estabelecidos. O profeta como uma figura combativa que encontra forças excepcionais para balançar as estruturas sociais. Mas precisamos recuperar a dimensão contemplativa dos profetas.

Falavam com muita coragem mesmo contrariando os projetos dos poderosos e os desejos imediatos do povo, porém, antes estiveram silenciosos por dias prestando atenção aos mínimos detalhes revelados. Silêncio. Respiração calma. Passos cadenciados.

O profeta aguça a audição e educa o olhar.

Na leitura de Isaías 6, aprendemos a apreciar profecia não como frenética falação espetaculosa, mas como silêncio calmo. Olhar sem afobação. Sentidos em floração. Tranquilidade.

Contemplativo, não para saber primeiro e depois sair correndo para contar tudo a todos. Todavia, como atividade do espírito que tem sentido nela mesma. Antes de uma grande missão, Isaías teve uma grande visão: “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”.

Temos nos esforçado para sermos rápidos e conseguirmos dar conta de tudo. A vida demanda. O desafio é conseguir desacelerar para aprofundar.

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Foto: Domínio público/pxhere

Valdemar Figueredo
Editor do Instituto Mosaico, Pesquisador da USP (pós-doc), cientista social e pastor
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